A Igreja no Brasil nos dá a oportunidade, mais uma vez, de viver o Ano Vocacional. Pela terceira vez um ano inteiro para os cristãos se mobilizarem em torno das vocações. Podemos utilizar vários verbos para nos referir à proposta do ano: refletir, rezar, agir, envolver-se, enfim... Neste imenso e criativo Brasil, certamente não faltarão expressões para que este ano faça história. Escolhi partilhar algumas palavras a partir de dois verbos: celebrar e cultivar.
Celebrar é algo que nos marca profundamente.
Celebra-se a vida ao nascer, ao completar aniversário, ao constituir família,
ao fazer votos, ao morrer. Podemos passar diversas etapas da vida e todas
estarão marcadas de um caráter celebrativo. Celebrar não é só uma dimensão
constitutiva do rito, mas da vida. A nossa vida é uma grande celebração do
Criador. É bom recordar o celebrar, para não corrermos o risco de reduzir a sua
grandeza, nem objetificar algo tão nobre.
Celebrar todas as vocações, em suas distintas
respostas, fortalecendo a consciência de que somos discípulos-missionários de
Jesus Cristo, numa comunidade de fé. Aí resida uma das grandes belezas do
cristianismo e que tocam diretamente a questão vocacional. Alerta-nos bem o
texto-base do 3º Ano Vocacional, ao recordar a Gaudium et Spes, do Concílio
Vaticano II, que sublinha “o caráter comunitário da vocação, pois uma vocação
não é vivida de maneira isolada, afastada do mundo ou das pessoas” (n. 29). Se
toda vocação é comunitária, é neste ambiente fecundo da comunidade que cada
vocação deve ser celebrada, para florescer como dom ao Deus que chama.
Diretamente ligado ao primeiro verbo, conecto o
cultivar, como a imagem da beleza daquilo que merece a atenção. Cultiva-se a
terra para gerar o alimento, cultiva-se o cuidado da criança frágil, do enfermo
e do idoso, cultiva-se os sentimentos bons no coração. Cultivar, muitas vezes,
é associação àquilo que é feito com as mãos. E para bem celebrar a vocação é
preciso colocá-la na palma da mão para ser ofertada generosamente.
Cultivar também remete à cultura, que está no
objetivo geral do 3º Ano Vocacional: “promover a cultura vocacional nas
comunidades eclesiais, nas famílias e na sociedade, para que sejam ambientes
favoráveis ao despertar de todas as vocações, como graça e missão, a serviço do
Reino de Deus” (Texto-base, n. 3).
Novamente a Gaudium et Spes é invocada
para entender que “pelo termo ‘cultura’, em sentido geral, indicam-se todas as
coisas mediante as quais o homem aperfeiçoa e desenvolve as múltiplas
qualidades da alma e do corpo” (Texto-base, n. 150). Aqui reside uma beleza do
ano vocacional e, ao mesmo tempo, grande desafio: compreender que a cultura
vocacional não é só para responder a uma vocação específica, seja do ministério
ordenada ou da vida religiosa consagrada. O Ano Vocacional é a oportunidade de
“primeirear”, como gosta de usar o Papa Francisco, para todos e todas se
sentirem vocacionados e vocacionadas. Um caminho bonito para isso consiste na
valorização do testemunho dos homens e mulheres que estão no seu cotidiano
respondendo a este chamado com alegria. Em suas famílias, em seus ambientes de
trabalho e estudo, no lazer, no sofrimento.
Não haverá celebração e cultivo, nem
reconhecimento da vocação, sem a dócil ação do Espírito. Portanto, o primeiro
passo é abrir o coração à Sua vontade para que Ele haja em nós e produza os
frutos necessários. Encharcados por esta Graça, celebremos e cultivemos todas
as vocações. Vamos juntos neste caminho?
Marcus Tullius[1]
[1] Coordenador-geral da Pascom Brasil, membro do Grupo de Reflexão sobre Comunicação da CNBB e da comissão de Comissão de Comunicação do Ano Vocacional. É mestrando em Comunicação Social pela PUC Minas, apresentador do programa Igreja Sinodal em emissoras de inspiração católica.