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sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Honestidade e franqueza em tempos de “Sarahah”.

Um árabe criou uma rede social cujo nome significa "franqueza". Seu intuito era de que as pessoas tivessem uma forma de dizer às outras o que elas pensam e nunca tiveram coragem.
Não me surpreende o fato de “Sarahah” estar deixando as outras redes pra trás, e menos ainda saber que aqui no Brasil, a maioria, não todos, estejam usando a mesma rede social, não para serem francos ou honestos, mas para outros fins. Nem preciso mencionar.
Em tempos de modernidade ainda me sinto impactada ao ver seres humanos criando cada vez mais ferramentas que não os deixam ser quem são, mas alimentam a fantasia de serem o que quiserem. É meio contraditório, sei lá.
Que o nível de honestidade está lá em baixo já sabemos, basta olhar para o nosso cenário político, nem vou mencionar as pequenas corrupções que vemos e praticamos todos os dias. Seria demais ficar aqui exemplificando gestos infinitos de... Deixa pra lá.
Mais engraçado é que pessoas mandam mensagens diretas e anônimas pelo Sarahah, e os que recebem, em seguida publicam em outras redes print’s das mensagens recebidas como se todo mundo quisesse saber o que se passa nesse jeito restrito de se comunicar. Ou seja, não mudou nada, nem a intenção de enviar ou receber. É sempre o aparecer que prevalece. Que diferença faz uma rede social a mais se continuamos não sabendo lidar com nenhuma delas?
São questões humanas que estão em jogo. Cada vez mais estamos submergidos no ego. Corrija-me se eu estiver mentindo... Cada dia queremos colonizar as mentes daqueles que são diferentes de nós. Cada dia, cada post, cada imagem... (In) conscientemente nos lançamos e fazemos propaganda do que, ou de quem, gostaríamos de ser, e de como queremos que os outros sejam.
Particularmente, gosto desse ambiente digital e já fiz amigos de verdade por aqui, mas só pude chamar de amigos depois de um primeiro contato visual e estando no mesmo espaço físico, ou até mesmo, depois de longas conversas que se perderam nos Whats da vida... Já reencontrei nesses ambientes amigos de tempos atrás, amigos distantes... Mas isso não muda nada e nem diminui as distâncias, afinal, com o tempo, as pessoas mudam.
Os mesmos amigos em quem penso ao escrever isso poderiam dizer que sempre acabo convidando pra tomar um café (mesmo sem ser fã de café)... Para mim é assim que funciona o lance da amizade honesta. É assim que consigo ser franca, olhando no olho. Desarmada de discursos, de racionalismos.
Sarahah poderia ser uma solução para o caos que estamos vivendo mundialmente. Nunca foi tão difícil encarar as pessoas e dizer-lhes o que pensamos e pedir o que gostaríamos, dizer que amamos ou simplesmente ser presente na vida de alguém com 100% de franqueza.
Resta-me dizer que não vai mudar, pois não é de uma rede social a mais que precisamos, precisamos de coragem pra encarar a realidade, tanto pra dizer, quando pra ouvir, tanto pra receber críticas, quanto pra mudar a partir delas. Não é fácil saber o que o outro pensa sobre nós de verdade, sabe por quê? Porque não temos maturidade pra isso, a crise aqui é de diálogo e empatia.
O que sei mesmo é que sobre franqueza, gosto de ouvir os conselhos do meu Mestre, e tem me servido bem: "A verdade vos libertará" (Cf. Jo 8, 32). Isso não significa que ele não tenha enviado nenhum recado, sabemos que sim, cito o clássico recadinho para Herodes: “Vá dizer àquela raposa...” (Lc 13, 32). Quanto a isso é indispensável concordar, ele sempre era franco e honesto, dizia porque não tinha máscaras.
No mais, Sarahah nunca substituirá uma verdade de amor e de paz que pode ser dita pessoalmente, nunca tomará o lugar da verdade que dói, mas faz crescer. E nesse ponto, só corajosos alcançam... quanto a mim, vou continuar tentando.

E como disse Tiago Alberione (Apóstolo da Comunicação) “utilizai todos os meios (de comunicação)”, mas contemporaneamente ele também disse “fazei a todos a caridade da verdade”. Significa que, o que nos torna mais honestos e francos é o empenho de fazer o bem e o desejo de bem que envolvem nossas atitudes, e não, nem jamais, a rede social que usamos.

Ir. Gizele Barbosa, fsp