Um árabe criou uma rede social cujo nome significa
"franqueza". Seu intuito era de que as pessoas tivessem uma forma de
dizer às outras o que elas pensam e nunca tiveram coragem.
Não me surpreende o fato de “Sarahah” estar
deixando as outras redes pra trás, e menos ainda saber que aqui no Brasil, a
maioria, não todos, estejam usando a mesma rede social, não para serem francos
ou honestos, mas para outros fins. Nem preciso mencionar.
Em tempos de modernidade ainda me sinto impactada
ao ver seres humanos criando cada vez mais ferramentas que não os deixam ser
quem são, mas alimentam a fantasia de serem o que quiserem. É meio
contraditório, sei lá.
Que o nível de honestidade está lá em baixo já
sabemos, basta olhar para o nosso cenário político, nem vou mencionar as
pequenas corrupções que vemos e praticamos todos os dias. Seria demais ficar
aqui exemplificando gestos infinitos de... Deixa pra lá.
Mais engraçado é que pessoas mandam mensagens
diretas e anônimas pelo Sarahah, e os que recebem, em seguida publicam em
outras redes print’s das mensagens recebidas como se todo mundo quisesse saber
o que se passa nesse jeito restrito de se comunicar. Ou seja, não mudou nada,
nem a intenção de enviar ou receber. É sempre o aparecer que prevalece. Que
diferença faz uma rede social a mais se continuamos não sabendo lidar com
nenhuma delas?
São questões humanas que estão em jogo. Cada vez
mais estamos submergidos no ego. Corrija-me se eu estiver mentindo... Cada dia
queremos colonizar as mentes daqueles que são diferentes de nós. Cada dia, cada
post, cada imagem... (In) conscientemente nos lançamos e fazemos propaganda do
que, ou de quem, gostaríamos de ser, e de como queremos que os outros sejam.
Particularmente, gosto desse ambiente digital e já
fiz amigos de verdade por aqui, mas só pude chamar de amigos depois de um
primeiro contato visual e estando no mesmo espaço físico, ou até mesmo, depois
de longas conversas que se perderam nos Whats da vida... Já reencontrei nesses
ambientes amigos de tempos atrás, amigos distantes... Mas isso não muda nada e
nem diminui as distâncias, afinal, com o tempo, as pessoas mudam.
Os mesmos amigos em quem penso ao escrever isso
poderiam dizer que sempre acabo convidando pra tomar um café (mesmo sem ser fã
de café)... Para mim é assim que funciona o lance da amizade honesta. É assim
que consigo ser franca, olhando no olho. Desarmada de discursos, de
racionalismos.
Sarahah poderia ser uma solução para o caos que
estamos vivendo mundialmente. Nunca foi tão difícil encarar as pessoas e
dizer-lhes o que pensamos e pedir o que gostaríamos, dizer que amamos ou
simplesmente ser presente na vida de alguém com 100% de franqueza.
Resta-me dizer que não vai mudar, pois não é de uma
rede social a mais que precisamos, precisamos de coragem pra encarar a
realidade, tanto pra dizer, quando pra ouvir, tanto pra receber críticas,
quanto pra mudar a partir delas. Não é fácil saber o que o outro pensa sobre
nós de verdade, sabe por quê? Porque não temos maturidade pra isso, a crise
aqui é de diálogo e empatia.
O que sei mesmo é que sobre franqueza, gosto de
ouvir os conselhos do meu Mestre, e tem me servido bem: "A verdade vos
libertará" (Cf. Jo 8, 32). Isso não significa que ele não tenha enviado
nenhum recado, sabemos que sim, cito o clássico recadinho para Herodes: “Vá
dizer àquela raposa...” (Lc 13, 32). Quanto a isso é indispensável concordar,
ele sempre era franco e honesto, dizia porque não tinha máscaras.
No mais, Sarahah nunca substituirá uma verdade de
amor e de paz que pode ser dita pessoalmente, nunca tomará o lugar da verdade
que dói, mas faz crescer. E nesse ponto, só corajosos alcançam... quanto a mim,
vou continuar tentando.
E como disse Tiago Alberione (Apóstolo da
Comunicação) “utilizai todos os meios (de comunicação)”, mas contemporaneamente
ele também disse “fazei a todos a caridade da verdade”. Significa que, o que
nos torna mais honestos e francos é o empenho de fazer o bem e o desejo de bem
que envolvem nossas atitudes, e não, nem jamais, a rede social que usamos.
Ir. Gizele Barbosa, fsp