Sou a primogênita de cinco filhos e a predileta
de meu pai. Cresci na China, um país comunista.
Todos os meus parentes e amigos eram ateus,
porque é muito difícil para nós compreender o sentido da fé cristã. No entanto,
apesar da minha ignorância, não bloqueei o projeto de Deus sobre mim.
Aos 14 anos, durante as férias, sem meus pais
saberem e por curiosidade, comecei a frequentar as lições de catecismo, junto
com uma amiga. Aprendi que no paraíso há uma grande luz, coisa que me atraiu
muito, porque, por natureza amo a luz e tenho medo do escuro. Terminado o curso
de catecismo, decidi tornar-me católica. Ninguém da minha família havia ouvido
falar de Jesus... Meus pais se opuseram à minha decisão, mas finalmente
permitiram que eu fosse batizada. Só tinha um desejo, um único objetivo: ir para
o céu e fazer-me santa.
Por motivo da perseguição da Igreja e dos
cristãos, naquele tempo só podia haver Missa à noite. Meus pais se preocupavam
pelo perigo que eu corria e não queriam que eu saísse à noite, de modo que, com
frequência, eu saía às escondidas..., passando pela janela.
Caminhar uma ou duas horas pela estrada, à
noite, era, de fato, perigoso. Com meus amigos, ao longo do caminho, recitávamos
o rosário, sentindo-nos acompanhados por Maria e, na volta, por Jesus
Eucaristia. Nosso coração estava sempre repleto de alegria. Depois de alguns
anos, porém, comecei ter dúvidas de fé, por motivo da educação comunista e do
estudo das ciências. Minha fé atravessou um longo inverno. Conhecia, ainda pouco
a mensagem de Deus, porque não tinha uma Bíblia, sequer. Mas, Deus com sua mão
invisível e providente, quando eu tinha 18 anos, me enviou à Cingapura. Lá, a
minha fé se reforçou. Foi como a volta da primavera.
Durante o primeiro Natal em Cingapura, dei-me
um presente: comprei uma Bíblia chinesa! A beleza e a riqueza da Palavra de Deus
me deixou feliz. À medida que o conhecimento da Palavra se tornava mais profundo
em mim, percebia que Deus no seu imenso amor, me havia escolhido para ele. Como
fui lenta em perceber isso e decidir-me... Mas, foi preciso ainda um pouco de
tempo até compreender que Deus estava sempre presente, me chamava e aguardava a
minha resposta.
A oração ajudou-me a entregar-me: um sincero e
livre “sim” ao Senhor. A partir daquele momento experimentei em meu coração uma
paz profunda. Sonhava tornar-me porta voz, tornar seu amor conhecido,
especialmente ao povo chinês.
Como conheci as
Filhas de São Paulo?
Minha madrinha de crisma mostrou-me um livreto
que falava delas. De início, não me mostrei muito interessada. O meu ideal não
era aquele de ser uma Filha de São Paulo, mas uma filha de Deus...
O caminho para ser irmã não foi simples. Antes
de entrar na comunidade trabalhei por 8 anos em Cingapura. Possuia tudo o que
desejava: um bom emprego, muito tempo, ocasiões para viajar. Duas vezes por ano
visitava meus pais, na China. Quando falei para minha família do desejo de
tornar-me religiosa, ninguém me compreendeu e, muito menos, me apoiou. Todos se
afastaram de mim. Eram livres pensadores e não
acreditavam na existência de Deus. Para eles, querer tornar-me irmã era ideia de
louco.
Um colega de escola, que me amava muito,
esperou, pacientemente, até o dia da profissão religiosa. Só então se convenceu que eu tinha
verdadeira vocação. Por causa da minha escolha, minha família viveu grandes
dificuldades entre nós. Especialmente meu pai.
De fé comunista e tendo um bom emprego nos
escritórios do governo. Mas, temendo que nossa família fosse perseguida, saiu do
emprego, com uma notável perda econômica para todos nós. Tinha 55 anos. Tenho um
irmão mais jovem, muito afeiçoado a mim, que não quis falar comigo durante nove
anos. Graças a Deus reconciliou-se comigo. Atualmente, com exceção de meu pai,
toda a família tornou-se católica.
Entrei com as FSP em Cingapura em 1995.
Em seguida fui enviada para os Estados Unidos
para minha primeira formação. Não conhecia inglês, que considerava muito difícil
para aprender. Somente o amor das irmãs me ajudou a perseverar no estudo da
língua. Mesmo sendo a única chinesa nos USA, senti-me como em minha casa.
Quando jovem era muito auto suficiente, mas
aprendi a obedecer e renunciar a muitas coisas: o estilo de vida, o trabalho, os
amigos.
Em certo sentido, renunciei também à minha
família, porque não podia visitá-los com frequência e isso era um grande
sacrifício também para eles. Pouco a pouco aprendi a distanciar-me das coisas
que se interpunham entre Deus e eu. Experimentava uma grande alegria em poder
dar Cristo aos outros. Partilhava as alegrias e sofrimentos com as pessoas que
encontrava e sentia estar recebendo muito mais que doando.
Quando deixo meu pensamento voltar ao passado,
paro para considerar o que deixei e sinto que escolhi a melhor parte e me sinto
feliz em ser irmã.
Tenho ainda um longo caminho para percorrer,
mas cada dia é uma oportunidade para crescer na fé e no amor de Cristo. Como
Filha de São Paulo procuro imitar o grande apóstolo, de modo a fazer-me toda
para todos.
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