domingo, 24 de novembro de 2013

Advento e Cristo Rei

*A Trindade está na origem. Pois “no princípio está comunhão dos Três e não a solidão do Um” (L. Boff). O Advento não se restringe à silenciosa expectativa do Filho que já veio, que está e que virá. Que veio do seio do Pai pela mediação do corpo de Maria. Que está na presença ressuscitada de tantas maneiras, desde o sinal privilegiado da Eucaristia até o corpo machucado do pobre. Que virá no ruído das trombetas angélicas para acolher no esplendor da glória quem na história vestiu os nus, visitou os enfermos e encarcerados, alimentou os famintos, saciou os sedentos, abrigou os sem teto e moradores de rua, cuidou dos anciãos, escolarizou as crianças, protegeu os perseguidos, enfim a todos que viveram para o outro e não para si. 
 
Advento anuncia a salvação da história. O tempo não surgiu da simples numeração do movimento, como reza a filosofia. Ele brotou do dedo infinito do Pai. Criou o nosso tempo humano. Nele o Filho viveu os dias. E quando tudo parecia perdido pela morte, o Espírito o transformou em tempo novo de anúncio a todo o mundo da salvação da humanidade.
A festa do Advento merece também o nome de Festa da volta.
 O Senhor veio para dizer-nos como voltaremos para ele. Sabemos como nascemos de nossas mães, experimentamos como vivemos o presente na maior ou menor lucidez dos dias. Mas desconhecemos radicalmente o futuro último com o olhar da razão humana. Suspiramos sem saber por que realidade. Miramos para o futuro como para noite cuja estrela polar orientadora se nos esconde. Então a festa do Advento nos desvenda o enigma. Aquele que veio na Encarnação e voltou na Ascensão, agora nos aponta o começo e o fim, alfa e ômega.
 Como se não bastasse tempo litúrgico tão bonito e significativo, celebramos ainda a festa de Cristo-Rei. Ela fecha o ano da liturgia com a proclamação da soberania de Jesus. Iludimo-nos se a metáfora de rei se espelha nas dinastias das velhas e novas aristocracias. A comunidade primitiva imunizou-nos de tal contágio. Pois, ao descrever a última vinda do Rei divino, fê-la cercar com os menores servidores da terra.

Em lugar de Rei, cabe perfeitamente o título “o Maior Servidor”, tanto para ele, como para aqueles que o seguem. Nessa perspectiva, o fim do ano litúrgico com a Festa de Cristo-Rei e o seu começo com o Advento se identificam no mesmo espírito. A liturgia termina o ano, manifestando-nos o sentido último da vida Jesus no reinado do serviço e inicia com o Advento, também ele todo feito de entrega humilde à humanidade. Para mostrar o esplendor dos grandes, Deus não precisaria vir à história. Bastamos nós. Revelar, porém, o sentido último do existir humano na simplicidade escondida do Advento e no Reinado cercado dos pobres e para os pobres, então sim, só Deus mesmo podia fazê-lo.

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