Neste domingo, dia 17 de maio, celebraremos com toda a Igreja o Dia Mundial
das Comunicações Sociais, que neste ano nos convida a refletir sobre
Comunicação e Família. Um tema que nos abre os olhos para a realidade do
processo comunicativo dentro de nossas casas. De que forma estamos
construindo nossas famílias? Nossas casas são escolas de amor e perdão
como nos sugere o Papa em sua mensagem?
Que este seja um dia de reflexão e, sobre tudo, de mudança de comportamento, para que nossos lares sejam morada do amor!
O tema da família encontra-se no centro duma profunda reflexão eclesial e
dum processo sinodal que prevê dois Sínodos, um extraordinário –
acabado de celebrar – e outro ordinário, convocado para o próximo mês de
Outubro. Neste contexto, considerei oportuno que o tema do próximo Dia
Mundial das Comunicações Sociais tivesse como ponto de referência a
família. Aliás, a família é o primeiro lugar onde aprendemos a
comunicar. Voltar a este momento originário pode-nos ajudar quer a
tornar mais autêntica e humana a comunicação, quer a ver a família dum
novo ponto de vista.
Podemos deixar-nos inspirar pelo ícone evangélico da visita de Maria a
Isabel (Lc 1, 39-56). «Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino
saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
Então, erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e
bendito é o fruto do teu ventre”» (vv. 41-42).
Este episódio mostra-nos, antes de mais nada, a comunicação como um
diálogo que tece com a linguagem do corpo. Com efeito, a primeira
resposta à saudação de Maria é dada pelo menino, que salta de alegria no
ventre de Isabel. Exultar pela alegria do encontro é, em certo sentido,
o arquétipo e o símbolo de qualquer outra comunicação, que aprendemos
ainda antes de chegar ao mundo. O ventre que nos abriga é a primeira
«escola» de comunicação, feita de escuta e contacto corporal, onde
começamos a familiarizar-nos com o mundo exterior num ambiente protegido
e ao som tranquilizador do pulsar do coração da mãe. Este encontro
entre dois seres simultaneamente tão íntimos e ainda tão alheios um ao
outro, um encontro cheio de promessas, é a nossa primeira experiência de
comunicação. E é uma experiência que nos irmana a todos, pois cada um
de nós nasceu de uma mãe.
Mesmo depois de termos chegado ao mundo, em certo sentido permanecemos
num «ventre», que é a família. Um ventre feito de pessoas diferentes,
interrelacionando-se: a família é «o espaço onde se aprende a conviver
na diferença» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 66). Diferenças de gêneros e
de gerações, que comunicam, antes de mais nada, acolhendo-se
mutuamente, porque existe um vínculo entre elas. E quanto mais amplo for
o leque destas relações, tanto mais diversas são as idades e mais rico é
o nosso ambiente de vida. O vínculo está na base da palavra, e esta,
por sua vez, revigora o vínculo. Nós não inventamos as palavras: podemos
usá-las, porque as recebemos. É em família que se aprende a falar na
«língua materna», ou seja, a língua dos nossos antepassados (cf. 2 Mac
7, 21.27). Em família, apercebemo-nos de que outros nos precederam, nos
colocaram em condições de poder existir e, por nossa vez, gerar vida e
fazer algo de bom e belo. Podemos dar, porque recebemos; e este circuito
virtuoso está no coração da capacidade da família de ser comunicada e
de comunicar; e, mais em geral, é o paradigma de toda a comunicação.
A experiência do vínculo que nos «precede» faz com que a família seja
também o contexto onde se transmite aquela forma fundamental de
comunicação que é a oração. Muitas vezes, ao adormecerem os filhos
recém-nascidos, a mãe e o pai entregam-nos a Deus, para que vele por
eles; e, quando se tornam um pouco maiores, põem-se a recitar juntamente
com eles orações simples, recordando carinhosamente outras pessoas: os
avós, outros parentes, os doentes e atribulados, todos aqueles que mais
precisam da ajuda de Deus. Assim a maioria de nós aprendeu, em família, a
dimensão religiosa da comunicação, que, no cristianismo, é toda
impregnada de amor, o amor de Deus que se dá a nós e que nós oferecemos
aos outros.
Na família, é sobretudo a capacidade de se abraçar, apoiar, acompanhar,
decifrar olhares e silêncios, rir e chorar juntos, entre pessoas que não
se escolheram e todavia são tão importantes uma para a outra… é
sobretudo esta capacidade que nos faz compreender o que é
verdadeiramente a comunicação enquanto descoberta e construção de
proximidade. Reduzir as distâncias, saindo mutuamente ao encontro e
acolhendo-se, é motivo de gratidão e alegria: da saudação de Maria e do
saltar de alegria do menino deriva a bênção de Isabel, seguindo-se-lhe o
belíssimo cântico do Magnificat, no qual Maria louva o amoroso desígnio
que Deus tem sobre Ela e o seu povo. De um «sim» pronunciado com fé,
derivam consequências que se estendem muito para além de nós mesmos e se
expandem no mundo. «Visitar» supõe abrir as portas, não encerrar-se no
próprio apartamento, sair, ir ter com o outro. A própria família é viva,
se respira abrindo-se para além de si mesma; e as famílias que assim
procedem, podem comunicar a sua mensagem de vida e comunhão, podem dar
conforto e esperança às famílias mais feridas, e fazer crescer a própria
Igreja, que é uma família de famílias.
Mais do que em qualquer outro lugar, é na família que, vivendo juntos no
dia-a-dia, se experimentam as limitações próprias e alheias, os
pequenos e grandes problemas da coexistência e do pôr-se de acordo. Não
existe a família perfeita, mas não é preciso ter medo da imperfeição, da
fragilidade, nem mesmo dos conflitos; preciso é aprender a enfrentá-los
de forma construtiva. Por isso, a família onde as pessoas, apesar das
próprias limitações e pecados, se amam, torna-se uma escola de perdão. O
perdão é uma dinâmica de comunicação: uma comunicação que definha e se
quebra, mas, por meio do arrependimento expresso e acolhido, é possível
reatá-la e fazê-la crescer. Uma criança que aprende, em família, a ouvir
os outros, a falar de modo respeitoso, expressando o seu ponto de vista
sem negar o dos outros, será um construtor de diálogo e reconciliação
na sociedade.
Muito têm para nos ensinar, a propósito de limitações e comunicação, as
famílias com filhos marcados por uma ou mais deficiências. A deficiência
motora, sensorial ou intelectual sempre constitui uma tentação a
fechar-se; mas pode tornar-se, graças ao amor dos pais, dos irmãos e
doutras pessoas amigas, um estímulo para se abrir, compartilhar,
comunicar de modo inclusivo; e pode ajudar a escola, a paróquia, as
associações a tornarem-se mais acolhedoras para com todos, a não
excluírem ninguém.
Além disso, num mundo onde frequentemente se amaldiçoa, insulta, semeia
discórdia, polui com as murmurações o nosso ambiente humano, a família
pode ser uma escola de comunicação feita de bênção. E isto, mesmo nos
lugares onde parecem prevalecer como inevitáveis o ódio e a violência,
quando as famílias estão separadas entre si por muros de pedras ou pelos
muros mais impenetráveis do preconceito e do ressentimento, quando
parece haver boas razões para dizer «agora basta»; na realidade,
abençoar em vez de amaldiçoar, visitar em vez de repelir, acolher em vez
de combater é a única forma de quebrar a espiral do mal, para
testemunhar que o bem é sempre possível, para educar os filhos na
fraternidade.
Os meios mais modernos de hoje, irrenunciáveis sobretudo para os mais
jovens, tanto podem dificultar como ajudar a comunicação em família e
entre as famílias. Podem-na dificultar, se se tornam uma forma de se
subtrair à escuta, de se isolar apesar da presença física, de saturar
todo o momento de silêncio e de espera, ignorando que «o silêncio é
parte integrante da comunicação e, sem ele, não há palavras ricas de
conteúdo» (Bento XVI, Mensagem do XLVI Dia Mundial das Comunicações
Sociais, 24/1/2012); e podem-na favorecer, se ajudam a narrar e
compartilhar, a permanecer em contacto com os de longe, a agradecer e
pedir perdão, a tornar possível sem cessar o encontro. Descobrindo
diariamente este centro vital que é o encontro, este «início vivo»,
saberemos orientar o nosso relacionamento com as tecnologias, em vez de
nos deixarmos arrastar por elas. Também neste campo, os primeiros
educadores são os pais. Mas não devem ser deixados sozinhos; a
comunidade cristã é chamada a colocar-se ao seu lado, para que saibam
ensinar os filhos a viver, no ambiente da comunicação, segundo os
critérios da dignidade da pessoa humana e do bem comum.
Assim o desafio que hoje se nos apresenta, é aprender de novo a narrar,
não nos limitando a produzir e consumir informação, embora esta seja a
direcção para a qual nos impelem os potentes e preciosos meios da
comunicação contemporânea. A informação é importante, mas não é
suficiente, porque muitas vezes simplifica, contrapõe as diferenças e as
visões diversas, solicitando a tomar partido por uma ou pela outra, em
vez de fornecer um olhar de conjunto.
No fim de contas, a própria família não é um objeto acerca do qual se
comunicam opiniões nem um terreno onde se combatem batalhas ideológicas,
mas um ambiente onde se aprende a comunicar na proximidade e um sujeito
que comunica, uma «comunidade comunicadora». Uma comunidade que sabe
acompanhar, festejar e frutificar. Neste sentido, é possível recuperar
um olhar capaz de reconhecer que a família continua a ser um grande
recurso, e não apenas um problema ou uma instituição em crise. Às vezes
os meios de comunicação social tendem a apresentar a família como se
fosse um modelo abtraco que se há de aceitar ou rejeitar, defender ou
atacar, em vez duma realidade concreta que se há de viver; ou como se
fosse uma ideologia de alguém contra outro, em vez de ser o lugar onde
todos aprendemos o que significa comunicar no amor recebido e dado. Ao
contrário, narrar significa compreender que as nossas vidas estão
entrelaçadas numa trama unitária, que as vozes são múltiplas e cada uma é
insubstituível.
A família mais bela, protagonista e não problema, é aquela que, partindo
do testemunho, sabe comunicar a beleza e a riqueza do relacionamento
entre o homem e a mulher, entre pais e filhos. Não lutemos para defender
o passado, mas trabalhemos com paciência e confiança, em todos os
ambientes onde diariamente nos encontramos, para construir o futuro.
Vaticano, 23 de Janeiro – Vigília da Festa de São Francisco de Sales – de 2015.
Francisco PP.
Fonte: http://paulinascomunica.blogspot.com.br/2015/05/dia-mundial-das-comunicacoes-sociais-17.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário abaixo e não esqueça de colocar seu nome. Obrigada!