Partimos, então, dessa interpretação
do conceito de vocação: a vocação é um
diálogo entre duas liberdades, a de Deus e a do homem ou, mais exatamente,
a de Deus que chama a liberdade do homem. O homem existe porque Deus o chama, e
existe como ser livre justamente porque Deus o chama à existência com um ato
soberanamente livre; Deus, de fato, chama quem ele quer, quando quer e como
quer, “Por causa do seu plano salvífico e da sua graça” (2 Tm 1,9): escolhe e
chama tanto Zaqueu como Mateus, não vai procurar os chamados entre os “bons” e
os bem predispostos .
Um Deus absolutamente livre no
chamado cria ou torna totalmente livre o chamado, livre para dar-lhe resposta,
torna-o responsável, literalmente
“capaz de dar resposta”; não o amarra a si, não o obriga a amá-lo (veja o jovem
rico e o próprio Judas); quando muito o coloca em condições de decidir o que
fazer com o dom recebido, para ser livre, como o seu Criador, exatamente.
Consequentemente, a vocação é no
fundo um diálogo, um diálogo com características responsoriais, entre Deus e a
pessoa humana, Deus dialogador sempre limitado e, no entanto, chamado a
interagir com Deus. O primeiro protagonista da vocação é, portanto, Deus, que é
indicado pela Bíblia como “aquele que chama” (Rm 11,9; cf. Gl 5, 8; 1Pd 1,15),
desde sempre, como uma definição. A que Deus chama?
(Livro: Quando Deus chama, pag. 13 e
14 – Ed. Paulinas)
Chamado à vida
Deus,
antes de tudo, é aquele que chama à vida.
E esse chamado, de cara, manifesta algumas característica da sua vontade de
salvação, mas também do chamado autêntico. Ele, de fato, chama alguém que não
existe e não poderia, portanto, responder-lhe, mas Deus o chama justamente para
dar-lhe essa possibilidade, e o faz existir, cria nele capacidade, escolhendo-o
antes do seu nascimento (cf. Jr. 1,5; Gl 1,15).
A
iniciativa é toda divina e expressa a grandeza de um amor que é tão intenso que
determina a existência do amado. É o amor no começo de tudo, e o amor de Deus
precede a criação e a quer. Nós todos viemos à vida porque uma Vontade boa no
amor antes mesmo que nós existíssemos. E isso é mistério!
Amou-nos
a ponto de fazer-nos desde cedo obedientes ao seu chamado: a nossa vinda ao
mundo e à vida é ato de obediência ao chamado
divino que nos quis existentes. Desse ponto de vista, a criação é imagem da
vocação autentica, como mistério, grande, de graça. E amou-nos, ainda, com uma
benevolência pessoal e única, chamando-nos pelo nome, dando-nos a vida e
confiando-nos uma missão segundo um projeto pensado exatamente para cada um de
nós (cf. Gn. 17,5; Is 45, 4; Jo 10, 3-28).
O
homem não é, por acaso, um projeto pensado por Deus e desenhado pelas suas
mãos? Como bem disse Newman: “Eu fui criado para fazer ou para ser alguma coisa
para a qual nenhum outro jamais foi criado. Pouco importa que seu seja rico ou
pobre, desprezado ou estimado pelos homens. Deus me conhece e me chama pelo
nome. De alguma forma, sou tão necessário em meu lugar, como um arcanjo em
seu”.
(Livro: Quando Deus chama, pag. 14-16
– Ed. Paulinas)
Chamado à fé
A partir do momento da nossa
resposta ao chamado inicial de Deus Criador, a vida de cada um de nós foi com
um contínuo suceder de chamados, pequenos e grandes, implícitos ou explícitos,
logo reconhecíveis ou velados, mas sempre com o mesmo Sujeito que chama: aquele
Deus pai e mãe que depois de nos haver dado a vida nos chama a vivê-la
plenamente, no máximo das nossas possibilidades e mais além, segundo um
desígnio que ele pensou.
E mais uma vez a liberdade do homem
é chamada a uma opção, no ato mais decisivo e misterioso de toda a vida: crer
ou não crer em Deus! Aquele crer que hoje, em particular, significa adesão de
todo o ser, crer-amar a Deus com tudo de si, com o coração e a com a mente, com
as mãos e com os pés, com as forças, crer como confiar em Deus. [...]
O chamado a fé articula-se,
substancialmente, numa série de chamados posteriores dirigidos sempre à
liberdade do homem em diálogo com Deus que chama.
(Livro: Quando Deus chama, pag. 20 e
21 – Ed. Paulinas)
Chamado na Igreja e no mundo
Enfim, o chamado de vocês acontece
num lugar preciso, que é ao mesmo tempo ponto de partida e de chegada do
chamado, lugar do seu nascimento e destino final, as suas raízes e o seu florescimento. Além
dessa imagem, dizemos que a vocação de vocês nasce não num lugar abstrato e não
está em função da perfeição pessoal de cada um, mas nasce na Igreja e no mundo
e está a serviço da Igreja e do mundo. É perigoso esquecer isso. [...]
Se, portanto, as raízes de vocês
estão na Igreja e no mundo, a vida consagrada deve estar firmemente ancoradas
nelas, e dar fruto em abundância para a santidade da Igreja e a salvação do
mundo, amando sinceramente a sociedade eclesial e a civil. Sem olhar para si
mesma.
(Livro: Quando Deus chama, pag. 46 e
47 – Ed. Paulinas)
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