Iniciamos o mês Outubro com o pé e o
coração na estrada, inspiradas no tema do mês missionário, “A
alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”, nosso site
bateu um papo bem legal com nossas irmãs a fim de conhecer as realidades onde
estão inseridas desenvolvendo a missão paulina.
A entrevistada de hoje é Irmã Roseane Barbosa, fsp, natural de Belém - PA,
atualmente realiza a missão em Miami, nos Estados Unidos, junto aos brasileiros
que lá residem.
Site das Irmãs
Paulinas: Ir. Roseane, o que a
motivou para ser uma Irmã Paulina?
Ir. Roseane: Primeiramente o que me motivou a ser irmã foi o
amor pela Igreja e o desejo de poder fazer o bem às pessoas. E especificamente
para ser Paulina foi a missão com a comunicação. Desde que conheci as irmãs em
minha cidade lá pelos anos 90, eu sempre achei muito atraente e ousada a missão
de evangelizar através da comunicação. E apesar de não me sentir a “altura” de
uma missão tão grande, eu aceitei o desafio que o Senhor me propôs ao me chamar
para esta vocação. E assim lá se vão 24 anos desde que entrei aos 17 anos de
idade, e destes anos todos são ao todo 14 de consagração. É claro que hoje
ainda sinto o mesmo desafio, mas agora posso responder ao meu chamado com muito
mais confiança, coragem e capacidade.
Site das Irmãs
Paulinas: As Irmãs Paulinas
estão presentes em mais de 50 países, o que significa para a senhora ser
Missionária da Palavra em outro país?
Ir. Roseane: Uma característica do carisma paulino é a
universalidade e eu sempre achei isso muito interessante e bonito, contudo eu
não entendia o que de fato o que isso significava até vir para os Estados
Unidos onde tive que aprender uma outra língua, acolher uma nova cultura e conviver
com um povo diferente, mas com o mesmo desejo de viver a Palavra de Deus. Ser
missionária é muito desafiador, pois requer um “morrer” para si mesmo e para a
própria cultura. O missionário é alguém que deve dar tudo de si e apesar disso,
muitas vezes receberá incompreensões de diversas formas. Entretanto, isso não é
motivo para desânimo, e sim de confiar ainda mais em Deus, pois só Ele conhece
o nosso coração e o nosso desejo de fazer o bem.
Site das Irmãs
paulinas: Como sente e vive o
apelo do Papa Francisco de uma Igreja em saída, “A alegria do Evangelho
para uma Igreja em saída”?
Ir. Roseane: Acima de tudo ser uma “Igreja em saída” é saber
sair de si para acolher o próximo com as suas diferenças. Penso que essa foi
uma grande inspiração que o Espírito Santo concedeu ao nosso amado Papa
Francisco. Eu particularmente acredito que onde quer que estejamos devemos
sempre “estar em saída”, e isso para mim significa estar sempre pronto para a
missão. É claro que não é tão simples assim, mas Deus nos dá a graça de viver e
assumir as causas do Reino. Digo isso a partir da minha própria experiência,
pois vir para os EUA não foi tudo lindo e maravilhoso, houve muitas dores que
vieram misturadas às alegrias da missão. Antes de vir eu não sabia o que iria
encontrar, e mesmo assim eu disse sim e assumi as consequências desse sim, isso
para mim é “estar em saída”.
Site das Irmãs
paulinas: Qual a sua missão nos
Estados Unidos?
Ir. Roseane: Eu realizo a missão em Miami (sul do Estado da Flórida),
onde estou há um ano. Acompanho a três comunidades brasileiras que juntas
formam a “Missão Nossa Senhora Aparecida”, que é coordenada pelos padres
Scalabrinianos. Nessas comunidades eu trabalho com a formação bíblica e
catequética. E sempre que tenho uma formação levo junto comigo os livros de
Paulinas. Fazer com que as pessoas tenham acesso a Bíblia, livro, CD, DVD em
português faz parte dessa missão. Aqui temos uma realidade bem diferente do
Brasil, que é um país de matriz católica e é a nossa pátria mãe. Os EUA é um
país de origem protestante, e aqui o imigrante é sempre um estrangeiro, por
mais que tenha a cidadania ou o status de residente permanente ou temporário. O
imigrante, seja ele documentado ou não, trabalha muito e muitas vezes o acesso aos
“serviços religiosos” é bem limitado. Alguns não falam bem o inglês e outros
acabam por se tornarem evangélicos por causa das muitas comunidades que existem
aqui. Frente a essa realidade a nossa missão facilita com que os brasileiros
não se sintam tão distantes da própria língua e cultura.
Site das Irmãs
Paulinas: Tem alguma história marcante
que aconteceu nesse tempo de missão no EUA que a senhora gostaria de compartilhar
conosco?
Ir. Roseane: Tenho duas histórias muito significativas em minha
vida durante este tempo. Uma vez fui a uma comunidade na cidade de Miami Beach
e antes de sair de casa peguei um Terço e o coloquei na minha bolsa. Em geral
eu não costumo carregar comigo o Terço, mas nesse dia, algo me impeliu a
pegá-lo. Era um Terço que eu havia ganhando nessa mesma comunidade quando
estive lá pela primeira vez. Eu o mantive guardado até esse dia por ter outros
em uso. Ao chegar na comunidade fui ao encontro dos catequizandos e no momento
em que eu entrei no salão da catequese uma catequista perguntou-me: “irmã a
senhora sabe ler o Terço? ”. De imediato eu fiquei sem saber o que ela estava
me perguntando então perguntei-lhe: “como assim ler o terço?” E ela me respondeu:
“a senhora sabe as orações e como se reza o Terço?” Então eu senti um grande
arrepio dentro de mim, porque logo me veio à mente o fato de ter pego o Terço
antes de sair de casa. Então eu tirei o Terço da bolsa e comecei a explicar para
eles o modo como se rezava, os mistérios, a diferença entre Terço e Rosário,
etc. O mais interessante é que nenhuma das pessoas que estavam presentes sabiam
rezar o Terço e nem mesmo o tinham consigo. Eu era a única que tinha um em
minha bolsa graças a providência divina. E eu o tinha pego sem nenhum propósito
intencional. Foi muito emocionante perceber os caminhos como Deus nos conduz.
Outra experiência foi muito forte para mim foi a
passagem do furacão Irma que atingiu todo o estado da Flórida. Minhas irmãs de comunidade
e eu, por segurança, tivemos que sair de Miami, onde o furacão passou com maior
intensidade, e fomos mais para o norte do Estado para nos proteger. O furacão
passou por nós no domingo (10/09/17) a noite, já com uma intensidade mais
branda e mesmo assim os ventos eram muito fortes e não tinha como ficar
“tranquila”, pois parecia que a qualquer momento seríamos carregados pela fúria
dos ventos. Vivemos dias de grande tensão, expectativa e medo, pois a medida
que o furacão ia se aproximando, vários alertas de tornados e enchentes foram
emitidos próximos a onde estávamos. Essa experiência me fez perceber que literalmente
a nossa vida está nas mãos de Deus. Dizer isso não é novidade, mas sentir isso
de perto é bem diferente e muito avassalador. Eu nunca havia sentido tão forte
dentro de mim que Deus nos deu a vida, que Ele pode tirá-la a qualquer momento,
mas também pode preservá-la de todo mal. E assim o foi.
Mensagem vocacional
Ir. Roseane: Eu nunca gostei de fazer apelo vocacional porque
acho que isso exige antes de tudo um coerente testemunho de vida, e
sinceramente eu tenho medo que minhas incorrespondências não deem um bom
exemplo (risos). Mas, tirando-me de cena e colocando o Senhor no centro, eu só
posso dizer que se você sente dentro do seu coração que Deus está chamando você,
abra-se e deixe que Ele te conduza. Pois, se esta for a sua vocação, não há
nada que impedirá o Senhor de realizá-la em sua vida. Nem mesmo os seus planos
e sonhos pessoais, nem os seus pais, nem os seus medos ou noivo ou qualquer
outra coisa que seja. Quando Deus nos chama e nos quer para seu o serviço,
todos os caminhos se abrem e nos conduzem a Ele. Não adianta fugir como fez o
profeta Jonas, ou dizer que ainda é muito jovem como Jeremias, porque para Deus
não há desculpas ou pretextos que não sejam superáveis.
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