Irmã Maria Sousa de Oliveira, da Congregação das Filhas de Santa Teresa de Jesus, tem treze anos de vida religiosa. Irmã Gizele Barbosa, Filha de São Paulo (Irmãs Paulinas), tem um pouco menos no Convento. Maria dos Remédios simpatiza com as Irmãs Guanellianas e começa a dar os primeiros passos no caminho da “consagração”. O principal argumento que as três utilizam para justificar a escolha, no entanto, é comum: ser sinal de esperança para o mundo, na entrega incondicional a Deus, num serviço de amor ao Evangelho, à Igreja e ao povo.
Nesta entrevista, elas comentam sobre os desafios da vida religiosa, no contexto social e cultural em que vivemos. Confira:
Assessoria de Comunicação: Como é ser freira no mundo atual?
Irmã Maria Sousa: A essência da vida Religiosa está no sentimento do ser pessoa, viver como consagrada, para Deus, no mundo. Isso é difícil dentro dos “agitos” de uma sociedade pós-moderna? Sim e não. Sim, quando buscamos a felicidade fora de nós, desencaixada e desencarnada, quando queremos dar a resposta que o mundo quer, quando nos enchemos dos excessos do consumo, dos prazeres e futilidade impostos pela sociedade. Quem assim quer viver a Vida Religiosa Consagrada terá profundas frustrações. Mas, não é difícil quando descobrimos que o sentido da vida está para além da escolha de vida, que o sentido da escolha está na experiência profunda com Deus, na doação total e no desprendimento de tudo que pesa na bagagem da vida.
Irmã Gizele Barbosa: Se ser mulher no século XXI é um desafio, ser mulher consagrada, ainda mais. Os tempos mudaram. Com certeza, ser freira hoje não é a mesma coisa de 30, 40 anos atrás. No meu caso, posso falar da Vida Religiosa Consagrada Apostólica/Missionária e mais especificamente na ótica do meu Carisma (Comunicação), que tem raízes e natureza docente. Exige de nós muito estudo, preparação (inclusive profissional), fé, coragem. Afinal, a sociedade não aceita mais qualquer discurso sobre fé ou uma vivência religiosa devocional. É necessário uma vivência autêntica daquilo que se acredita. Por isso, as freiras de hoje precisam ser muito místicas, mas também inteligentes, “antenadas” e conscientes de que são chamadas a desempenhar um papel que é só delas, sem deixarem de serem femininas, maternais e próximas de todos (eu disse todos!). Vivemos num mundo fragmentado, individualista, consumista e “do descartável”. Fazer opção por uma vida casta, pobre o obediente nesse contexto é algo que a muitos surpreende, pois se trata de uma opção cotidiana, que não se sustenta se não for alimentada e alicerçada por motivações sólidas: Jesus, o povo, a missão, a experiência de se sentir amada por Deus e ter no coração a necessidade de retribuir, mas com gratuidade. Por isso, repito: ser freira hoje é fazer uma opção pelo Amor. É um mistério! Deus chama e a gente responde. Agora, quem responde precisa ter presente que egoísmos e mesquinhez não podem se sobressair ao amor. Vivemos juntas e em comunidade para amar e ver esse amor brilhar na missão, nos olhos das pessoas.
Maria dos Remédios: Querer ser freira hoje é normal pra mim, porque, dependendo de qualquer escolha, sempre terá suas dificuldades. A dificuldade apenas muda de nome (risos).
Assessoria de Comunicação: E os desafios da missão?
Irmã Mª Sousa: A missão sempre teve desafios, mas quem escolhe a Vida Religiosa Consagrada escolheu por saber que é Dom e Graça de Deus, ao mesmo tempo em que é “Loucura da Cruz”, caminho de martírio, em duas dimensões, branco e vermelho. Martírio branco, é aquele que você morre um pedacinho a cada dia pelo seu próximo em busca da santidade. Acontece no silêncio do seu coração. O vermelho é aquele do enfretamento de fronteiras, da defesa de grandes causas. Por elas, acabamos doando a vida em derramamento de sangue… Mas, se foi por uma missão abraçada por amor na loucura da Cruz, se morre dizendo: “eu sou feliz”.
Irmã Gizele: Como diria Padre Zezinho, “são muitos os convidados, quase ninguém tem tempo”… Esse continua sendo um desafio. Acredito que, para muitas congregações femininas, encontrar jovens que tenham coragem de deixar todas as outras opções pela opção de seguir Jesus, como Consagrada não é fácil. O próprio contexto de mudanças exige de nós, Consagradas, uma constante atualização no que diz respeito ao compreender o ambiente em que se realiza a missão. A Evangelização nas grandes metrópoles: este é um capítulo que muita gente não quer ler. Deus também está na cidade grande e, para mim, este é um desafio enorme, não somente para a minha congregação, que utiliza os meios de comunicação, mas para toda a Igreja. A mim resta dizer: gosto de desafios, sou uma vocação de uma cidade com 1. 802. 014 habitantes (segundo o último senso). E minha congregação está lá, todos os dias, no meio, no desafio de “fazer-se um”.
Maria dos Remédios: No futuro, dependendo da nossa escolha, decididamente… Apesar de escolher uma profissão, o indivíduo tem que escolher um estado de vida
Assessoria de Comunicação: É feliz na escolha que fez? Por quê?
Irmã Mª Sousa: Sim, porque não é a escolha que me faz feliz, mas o sentido da vida que encontrei nesta escolha.
Irmã Gizele: Se sou feliz? Sim! A felicidade é diferente de satisfação, e sinto que não é pelo fato de me sentir satisfeita que continuo nessa vida, é pelo fato de me encontrar como pessoa. Poderia seguir Jesus de outro jeito? Sim, poderia! Mas viver em comunidade é algo que nem toda vocação tem, e isso me encanta. A “interculturalidade”, o ir e vir em nome de alguém. O abraçar o mundo com os pés no chão. Isso é ser religiosa hoje. Não ter fronteiras… A vida Consagrada não é uma questão de porque, é uma questão de fé. Experimento todos os dias que nada nesse mundo preenche meus vazios do que viver dessa forma. A minha congregação (Irmãs Paulinas) confirma minha vocação quando me acolhe todos os dias em seu seio. No mais, me sinto amada por Deus e quero dar a vida pelo projeto do seu Filho, com a graça do Espírito. E isso basta.
Maria dos Remédios: Nesta experiência que estou, sim, estou feliz.
Assessoria de Comunicação: Que mensagem vocês deixam às (aos) jovens que estão buscando descobrir a vocação?
Irmã Mª Sousa: Para vocês, jovens vocacionados (as), diz Dom Quintino, nosso fundador: “A Vida Religiosa é um Dom, para Igreja. E você, filha (o), é esse Dom”. Existe algo mais belo e encorajador do que saber que você é um dom na construção do Reino de Deus? Então, jovens, venham compartilhar – e partilhar – suas vidas conosco, venham dar um pouco de si, para aqueles que muito precisam de vocês; deixa tua vida ser perfume derramado, para perfumar o mundo.
Irmã Gizele: Queridas jovens, coragem faz um bem enorme pra quem está buscando se encontrar na vocação! Não tenham medo de arriscar, procurem alguém que possa ajudar a discernir e ver o que e pra onde Deus chama, vale a pena! O Espírito Santo é muito criativo e Deus não muda de assunto quando quer dizer alguma coisa. Se me arrependo? Não! Viveria cada dia novamente. Nenhuma vocação se consolida sem sofrimentos e alegrias misturadas. E isso não é contraditório, pois um vocacionado (a) é um ser humano que não se contenta com o comum, mas se dá pelo (hoje), incomum e raro: O AMOR. Coragem! Vale a pena!
Maria dos Remédios: Não tenham medo de avançar, “para águas mais profundas”. Cristo te chama e quer de você uma resposta, pois vocação é Deus chamando e não devemos desistir só porque o mundo olhar torto, com ignorância. Cristo nos chama…
Fonte: site Diocese de Crato - CE
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