segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Celebrar e cultivar todas as vocações


A Igreja no Brasil nos dá a oportunidade, mais uma vez, de viver o Ano Vocacional. Pela terceira vez um ano inteiro para os cristãos se mobilizarem em torno das vocações. Podemos utilizar vários verbos para nos referir à proposta do ano: refletir, rezar, agir, envolver-se, enfim... Neste imenso e criativo Brasil, certamente não faltarão expressões para que este ano faça história. Escolhi partilhar algumas palavras a partir de dois verbos: celebrar e cultivar.

Celebrar é algo que nos marca profundamente. Celebra-se a vida ao nascer, ao completar aniversário, ao constituir família, ao fazer votos, ao morrer. Podemos passar diversas etapas da vida e todas estarão marcadas de um caráter celebrativo. Celebrar não é só uma dimensão constitutiva do rito, mas da vida. A nossa vida é uma grande celebração do Criador. É bom recordar o celebrar, para não corrermos o risco de reduzir a sua grandeza, nem objetificar algo tão nobre.

Celebrar todas as vocações, em suas distintas respostas, fortalecendo a consciência de que somos discípulos-missionários de Jesus Cristo, numa comunidade de fé. Aí resida uma das grandes belezas do cristianismo e que tocam diretamente a questão vocacional. Alerta-nos bem o texto-base do 3º Ano Vocacional, ao recordar a Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, que sublinha “o caráter comunitário da vocação, pois uma vocação não é vivida de maneira isolada, afastada do mundo ou das pessoas” (n. 29). Se toda vocação é comunitária, é neste ambiente fecundo da comunidade que cada vocação deve ser celebrada, para florescer como dom ao Deus que chama.

Diretamente ligado ao primeiro verbo, conecto o cultivar, como a imagem da beleza daquilo que merece a atenção. Cultiva-se a terra para gerar o alimento, cultiva-se o cuidado da criança frágil, do enfermo e do idoso, cultiva-se os sentimentos bons no coração. Cultivar, muitas vezes, é associação àquilo que é feito com as mãos. E para bem celebrar a vocação é preciso colocá-la na palma da mão para ser ofertada generosamente.

Cultivar também remete à cultura, que está no objetivo geral do 3º Ano Vocacional: “promover a cultura vocacional nas comunidades eclesiais, nas famílias e na sociedade, para que sejam ambientes favoráveis ao despertar de todas as vocações, como graça e missão, a serviço do Reino de Deus” (Texto-base, n. 3).

Novamente a Gaudium et Spes é invocada para entender que “pelo termo ‘cultura’, em sentido geral, indicam-se todas as coisas mediante as quais o homem aperfeiçoa e desenvolve as múltiplas qualidades da alma e do corpo” (Texto-base, n. 150). Aqui reside uma beleza do ano vocacional e, ao mesmo tempo, grande desafio: compreender que a cultura vocacional não é só para responder a uma vocação específica, seja do ministério ordenada ou da vida religiosa consagrada. O Ano Vocacional é a oportunidade de “primeirear”, como gosta de usar o Papa Francisco, para todos e todas se sentirem vocacionados e vocacionadas. Um caminho bonito para isso consiste na valorização do testemunho dos homens e mulheres que estão no seu cotidiano respondendo a este chamado com alegria. Em suas famílias, em seus ambientes de trabalho e estudo, no lazer, no sofrimento.

Não haverá celebração e cultivo, nem reconhecimento da vocação, sem a dócil ação do Espírito. Portanto, o primeiro passo é abrir o coração à Sua vontade para que Ele haja em nós e produza os frutos necessários. Encharcados por esta Graça, celebremos e cultivemos todas as vocações. Vamos juntos neste caminho?


Marcus Tullius[1]



[1] Coordenador-geral da Pascom Brasil, membro do Grupo de Reflexão sobre Comunicação da CNBB e da comissão de Comissão de Comunicação do Ano Vocacional. É mestrando em Comunicação Social pela PUC Minas, apresentador do programa Igreja Sinodal em emissoras de inspiração católica.


quinta-feira, 17 de novembro de 2022

História das Filhas de São Paulo

Tiago Alberione viu harmonizar, em Tecla Merlo, a suavidade com a decisão, a prudência com a fortaleza, o abandono com a iniciativa… tesouro para todas as filhas de São Paulo.




“Ele havia confidenciado e submetido a ideia de formar uma família religiosa feminina, ao lado da masculina, apenas iniciada. Algumas jovens boas lhe foram recomendadas, mas pouco conhecidas por ele, e não muito jovens. Ele percebeu logo que tanto para a primeira quanto para a segunda família, algumas pessoas que haviam ingressado não tinham vocação para uma verdadeira vida religiosa; no entanto, esta era a coisa mais essencial! A inteligência e o amor ao apostolado específico se formariam pouco a pouco, se houvesse docilidade à voz de Deus.

Essa preocupação durou vários meses… Então os clérigos do seminário e os cooperadores espirituais, celebraram o mês de maio, pedindo ao Senhor que provesse à família religiosa.

No final do mês foi-lhe dito: ‘Em Castagnito, d’Alba, há uma jovem de boa família, que, por piedade, inteligência, docilidade e bondade, faria isso muito bem…, mas tem duas dificuldades: escassa saúde, e ter frequentado apenas a escola local’. –‘Venha respondeu o Primeiro Mestre - o Senhor lhe dará suficiente saúde e a ciência necessária para seu ofício. Quando o Senhor quer…’.

 

Houve vários obstáculos, mas foram superados, especialmente com ajuda do então clérigo, e hoje pároco, cônego de Barolo, [Costanzo], irmão da jovem que agora é a Primeira Mestra das Filhas de São Paulo. As coisas aconteceram assim, de modo que se viu claramente a mão de Deus […]

A Família das Filhas de São Paulo teve, no início, muitas controvérsias… Mas tudo serviu para que ‘Teresa’, como todos a chamavam, tivesse o carinho das Filhas e estima geral: assim, quando aquelas sem verdadeira vocação religiosa se retiraram, foi anunciado às muitas jovens que haviam ingressado, que Teresa fora eleita superiora e o assentimento foi total.

O seu progresso na piedade, vida religiosa, docilidade, amor ao Instituto, ao apostolado e às pessoas foi sempre crescendo. O trabalho que ela devia fazer seria hoje excessivo até para uma pessoa fisicamente robusta: tudo dom de Deus […]

As Filhas de São Paulo têm nela dúplice livro: primeiro, o de sua vida cotidiana exemplar; segundo, um livro de papel, no qual se podem recolher  suas contínuas e práticas conferência às irmãs, os inúmeros avisos gerais e particulares, escritos publicados na circular ‘Regina Apostolorum’, etc. Recolhendo tudo, pode-se fazer um volumoso e bom livro que seria um tesouro, agora e no futuro, paras todas as Filhas de São Paulo.” 

 

Comissão de Espiritualidade e Formação Contínua das Filhas de São Paulo 

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Irmãs Paulinas, 91 anos de presença evangelizadora no Brasil

A Congregação das Irmãs Paulinas nasceu na Itália, em 1915, mas o espírito missionário a impulsionou para além-fronteiras. O primeiro país a ser escolhido para receber as Irmãs foi o Brasil. Assim, Padre Tiago Alberione, fundador da Congregação, enviou duas jovens irmãs para o Brasil: Irmã Dolores Baldi, em 21 de outubro de 1931, que desembarcou no Porto de Santos, em São Paulo, foi a pioneira a deixar a Itália como missionária além-fronteiras, e dois meses depois Irmã Stefanina Cillario, em 28 de dezembro do mesmo ano.




Duas irmãs italianas jovens, que deixaram o seu país, atravessaram o continente e chegaram ao Brasil, trazendo em suas malas: a alegria, o entusiasmo, a coragem, a fé e, principalmente, o amor pela vocação e missão paulina. Nos inícios da fundação, não foi nada fácil, pois para elas tudo era desconhecido: o idioma, a cultura e tantas outras características próprias do Brasil, mas isso não foi impedimento para as irmãs, pelo contrário, foi motivação e impulso para dedicar o tempo, as energias e a própria vida nesse país que, até então, era desconhecido, mas que com o passar do tempo, se tornou “sua” terra de missão.

Inicialmente, Ir. Dolores e Ir. Stefanina empenharam-se em visitas às famílias. De porta em porta elas ofereciam folhetos, Bíblia e outros livros. E assim, as Filhas de São Paulo tornaram conhecida a missão paulina. Carregando pesados pacotes, malas cheias de livros, debaixo de sol e chuva, às vezes, em meio a perigos, elas, com muita alegria, saíam para o apostolado da propaganda, como chamavam, e retornavam para suas comunidades com as malas vazias, porque não havia uma pessoa que não adquirisse um livro, e recebiam o folheto oferecido pelas irmãs. Foi assim que as primeiras irmãs iniciaram a missão. Não foi nada fácil, mas o desejo de tornar Jesus Mestre conhecido e amado por todos e o amor pelas famílias e pela missão as impulsionavam.

            Em 1934, as irmãs adquiriram uma antiga tipografia e começaram a fazer as primeiras impressões de livros e mensagens. Em 08 de dezembro de 1934, foi impresso o primeiro número da revista Família Cristã, e assim, a missão paulina começou a tomar corpo e a expandir-se no Brasil. Aos poucos, jovens brasileiras sentiram-se motivadas a assumir, também, esta missão.

No Brasil, nossa missão iniciou do nada, dizia Ir. Dolores. Mas a fé na bondade e providência de Deus, a dedicação incansável e a criatividade de todas as irmãs, desde os inícios, fizeram frutificar a missão paulina e hoje estamos comemorando 91 anos de presença Paulina neste país.

Hoje, somos as continuadoras dessa linda missão, iniciada por irmãs que, para nós, representam coragem, confiança na Providência de Deus, criatividade e resiliência. A expansão da nossa missão em quase todos os Estados brasileiros e a credibilidade da nossa missão deve-se ao empenho dessas pioneiras, e também de muitas outras irmãs, colaboradores, cooperadores que continuamente assumem conosco, com coragem, fé, entusiasmo, criatividade e ousadia, a missão paulina de Viver e Comunicar Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida na cultura da comunicação.

Obrigada Ir. Dolores e Ir. Stefanina pelo pioneirismo de vocês no Brasil. Graças à coragem e ousadia de vocês, nesse mês de outubro, estamos comemorando 91 anos de presença evangelizadora no Brasil. Continuem intercedendo pela nossa missão espalhada por todo o Brasil, e principalmente pelas vocações, para que as jovens, ao sentirem o chamado de Deus em seu coração, tenham coragem de responder sim e com alegria consagrarem suas vidas nesse nobre apostolado da comunicação.

                                                                                             

Ir. Sheila Silva Araújo, fsp 

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Primeira Missionária

 



“Aos 17 anos, imaginava-me no meio da floresta, procurando pessoas que nunca tinham ouvido falar de Jesus, para que eu lhes ensinasse o Catecismo. Sempre pensei que as missionárias e os missionários, como amam muito a Deus, se dedicassem à catequese, à evangelização, para que todas as pessoas O conhecessem e amassem”.

 

Assim se expressou Irmã Dolores Baldi, a primeira Irmã a sair da Itália, vindo ao Brasil “plantar” a Congregação das Filhas de São Paulo – as Irmãs Paulinas – em terras brasileiras.

Em 1929, Dolores participou de um retiro, a convite de seu pároco, onde Pe. Tiago Alberione, fundador da nova Congregação, falou sobre a vida, a espiritualidade e a missão paulinas.

“O silêncio ajudava a refletir. A graça de Deus agia em profundidade. Rezei muito e observei a vida das Irmãs. Percebi que o ambiente, mesmo durante o trabalho, tratava-se de alguma coisa muito diferente. Fiquei entusiasmada pela vida, oração e missão das Filhas de São Paulo e falei com Pe. Tiago Alberione sobre meu desejo de ser missionária. E ele foi claro e decidido: ‘Venha, ingresse o quanto antes’”.

No dia 20 de abril de 1929, com a bênção de seu pároco e com o consentimento de seus irmãos, Dolores deixou sua família e sua pequena cidade, e iniciou em Alba uma caminhada que só terminou, no Brasil, com sua morte em 1999, na realização de seu sonho missionário, na busca de seu Ideal, como Filha de São Paulo.

No final de setembro de 1931, Dolores ouviu com imensa alegria a afirmação de sua Mestra, Irmã Brígida Peron: “Você se lembra de que me disse que queria ser missionária? Pois bem, chegou a hora. Você será a primeira missionária Filha de São Paulo”. Dolores professou os votos religiosos e recebeu do Pe. Tiago – o livro do Evangelho, um crucifixo e um terço, dizendo-lhe: “Nossa Senhora das Dores, ao pé da cruz, colaborou para a salvação da humanidade. Santifica-te, e os brasileiros se santificarão”.

A vida de Irmã Dolores foi uma linda história de fé, dedicação e coragem. Jovem, 21 anos, camponesa marcada pela simplicidade, tendo apenas uma cultura de nível médio, mas amante de Deus, inteligência prática, ardor missionário envolvente, olhar profundo e voltado para o horizonte, Irmã Dolores desembarcou no porto de Santos, SP, no dia 21 de outubro de 1931. Naquele momento assumiu o Brasil como sua pátria, e cada brasileiro e brasileira como irmãos e irmã, por quem rezava diariamente, trabalhava, e a quem muito amou, por quem deu toda a sua vida, suas forças e sua inteligência.

De 1931 a 1966, Irmã Dolores esteve à frente da vida e das atividades das Filhas de São Paulo brasileiras, impulsionando, apoiando e animando cada uma. Testemunhou:

“As Paulinas brasileiras cresceram em número, em sabedoria, em obras e em entusiasmo pela missão, animadas e sustentadas pela mesma força íntima: DEUS”...

“Hoje canto um hino de louvor a Deus porque se serviu de minha pequenez e fez maravilhas, apesar de minhas limitações e faltas, e renovo o propósito de São Paulo: ‘Esquecendo-me do que fica para trás, lanço-me para o que está à frente’ (Fl 3,13)”.

  

E VOCÊ, JOVEM:

O que você sente no seu coração? Já sentiu ou sente o desejo de fazer o bem às pessoas, e servir a Deus em seus irmãos e irmãs? Que tal conhecer a Congregação onde Irmã Dolores viveu feliz durante 70 anos? Que tal arriscar e partir para uma vida onde primam os valores de oração, de missão, de entrega, de fraternidade... e de tantos outros valores que preenchem nossa vida de sentido?

É Jesus quem lhe diz: “Venha, e você verá!”.



Irmã Aparecida Matilde Alves, fsp

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Dom da Terra e Aliança com Deus: relação a partir do livro de Josué

Estamos concluindo o mês de setembro, no qual comemoramos o mês da Bíblia. A temática abordada neste período foi extraída do livro de Josué. Para melhor conhecermos este livro, trazemos aqui a relação estabelecida entre a terra, compreendida como dom de Deus garantido a partir da fidelidade do povo à Aliança com o Deus criador. Como será que esta fidelidade à Aliança com Deus poderia nos ajudar a combater as injustiças que presenciamos nos dias atuais? 
No livro de Josué, em seu discurso final e na organização da confederação das tribos, fica claro que não basta ter a Terra, mas é importante mantê-la por meio da fidelidade à Aliança estabelecida com Deus. Para isso, as relações devem ser fundamentadas no amor, na justiça, na igualdade, na fraternidade e, sobretudo, na solidariedade para com o sofrimento do irmão e da irmã. Essa unificação só será possível ao pronunciarem a fé (Js 24) e permanecerem unidos ao redor do Senhor, Deus de Israel. Assim, Js não tem o escopo de fornecer dados históricos sobre a ocupação da terra, mas seu objetivo é catequético, é teológico. 

O tema da terra é importante para nós, justamente nesse tempo no qual comemoramos os 200 anos da independência do Brasil, e também nessa realidade pós-pandêmica, se já podemos dizer assim, na qual muitos irmãos perderam suas casas, suas terras, por falta de condições de continuar pagando aluguel; por falta de políticas econômicas que ajudassem os pequenos produtores; pela morte daqueles que sustentavam a família com seu trabalho ou com sua aposentadoria e por tantos fatores que foram agravados pela pandemia. Essa temática nos remete à encíclica Laudato Si’, quando o Papa Francisco nos recorda: “hoje crentes e não crentes estão de acordo que a terra é, essencialmente, uma herança comum cujos frutos devem beneficiar a todos”.[1] Essa visão é complementada pela Carta Encíclica Fratelli tutti, ao afirmar: “nos primeiros séculos da fé cristã, vários sábios desenvolveram um sentido universal em sua reflexão sobre o destino comum dos bens criados. 

 Isso levou a pensar que, se alguém não tem o necessário para viver com dignidade, é porque outrem está se apropriando do que lhe é devido”.[2] O papa também recorda o que escrevia João Paulo II: “Deus deu a terra a todo o gênero humano, para que ela sustente todos os seus membros, sem excluir nem privilegiar ninguém”.[3] Talvez uma forma de aprofundar esse livro é a de refletir sobre a problemática da terra, um tema tão forte em nosso país. Por outro lado, o estudo desse livro nos recorda que é fácil acusar Deus por nossos problemas, nossos fracassos, o desafio é o de viver em “contínua conversão” e recomeçar, após a tomada de consciência de nossas infidelidades. 

 Irmã Zuleica Silvano, fsp 

 Referências: 

[1] FRANCISCO, Papa. Carta encíclica Laudato Si’: sobre o cuidado da Casa Comum. São Paulo: Paulinas, 2015. n. 93. 

[2] FRANCISCO, Carta encíclica Fratelli tutti: sobre a fraternidade e a amizade social. São Paulo: Paulinas, 2020. n. 119. 

[3] SÃO JOÃO PAULO II, Papa. Carta encíclica Centesimus Annus: no centenário da Rerum Novarum. 7.ed. São Paulo: Paulinas 2008. n. 31. (Voz do Papa, 126); e FRANCISCO, Carta encíclica Fratelli tutti, n. 120.

domingo, 18 de setembro de 2022

Mês da Bíblia 2022: Livro de Josué – “O Senhor teu Deus está contigo por onde quer que andes” (Js 1, 9)

 



O Mês da Bíblia teve início no Brasil há mais de 50 anos e é uma atividade que ocorre todos os anos, com o objetivo de estudar um tema ou um determinado livro bíblico. O Mês da Bíblia deste ano, realizado agora em setembro, tem como tema o Livro de Josué, que foi escolhido pela CNBB com as demais instituições bíblicas. A motivação para essa escolha foi a comemoração do bicentenário da Independência do Brasil e o fato de este ser um ano de eleição. Esses eventos estão em sintonia com dois dos principais temas do Livro de Josué: a terra e o papel fundamental das lideranças.

 

Josué é o livro que narra a entrada na Terra Prometida, após a libertação da escravidão no Egito e a longa travessia pelo deserto. Esse livro não tem a pretensão de oferecer dados históricos ou baseados na Arqueologia, mas de confirmar a presença de Deus em toda a história.

 

De acordo com a irmã Zuleica Silvano, fsp, biblista do Serviço de Animação Bíblica da Paulinas (SAB) e uma das organizadoras da obra, o Livro de Josué teve um longo período de redação; provavelmente, surgiu no reinado de Josias, mas recebeu influência do período exílico e pós-exílico. O protagonista do livro, Josué, é apresentado como um modelo de líder, servindo como paradigma para as grandes lideranças da terra de Israel. Por isso, é semelhante a Moisés, dado que será seu sucessor, e ao rei Josias, considerado um rei fiel pela tradição deuteronomista.

 

Josué é capaz de unificar o povo, não por causa de sua força guerreira ou de suas capacidades bélicas, mas por confiar nas promessas de Deus e ser obediente à sua vontade. A pergunta que perpassa esse livro, se considerarmos a sua compilação no pós-exílio, é: por que perdemos a Terra Prometida para os assírios e babilônicos? Será que os outros deuses são mais potentes do que o Deus de Israel? Será que Deus nos abandonou? O autor ou os autores da tradição deuteronomista respondem de forma negativa essas duas últimas questões e reafirmam a fidelidade divina, que cumpriu sua promessa ao conceder a terra ao povo eleito, como prometera aos patriarcas e matriarcas. No entanto, conforme a Aliança firmada com Deus, para permanecer na terra, eram necessárias a fidelidade do povo e a observância aos mandamentos por parte de suas lideranças. Infelizmente, isso não ocorreu, por isso perderam a terra. De fato, o Livro de Josué ajuda o povo a tomar consciência de sua infidelidade, não para ficar se lamentando, mas para retomar a Aliança, e o anima nessa fase de reestruturação, após o exílio babilônico.

 

Tudo isso está presente na obra que lançamos: Livro de Josué – Nós serviremos ao Senhor, escrita por vários autores, biblista e professores das diversas faculdades de Teologia do Brasil. Esse livro estrutura-se em três partes. Na primeira, há uma introdução ao Livro de Josué, na qual são fornecidas informações sobre quem é Josué, quando e onde esse livro foi escrito, suas características teológicas principais, e são oferecidas chaves de leitura, dado que a pretensão desse livro não é apresentar dados arqueológicos ou historiográficos, como já mencionado, e sim ser uma catequese, para fortalecer a fé do povo. Mas, se é uma catequese, como foram as origens de Israel? Para responder a essa pergunta, dedicamos um artigo que sintetiza as várias hipóteses dessa origem, sendo ainda uma questão aberta. A segunda parte da obra lançada por Paulinas tem como escopo abordar teologicamente aspectos importantes presentes no Livro de Josué, como: a questão da terra; o ser povo, e não tribos isoladas; a Teologia da Aliança e da Retribuição; a face guerreira e violenta de Deus, que perpassa todo o Livro de Josué. Na terceira parte, analisamos exegeticamente alguns textos mais conhecidos, como a derrubada das muralhas de Jericó, ou seja, a narração de uma grande liturgia no início da ocupação da Terra Prometida; o papel fundamental da cananeia Raab, uma mulher prostituída, responsável pela sua família, que colabora na tomada da cidade de Jericó, citada nos textos rabínicos e elogiada no Antigo e no Novo Testamentos, sendo mencionada na genealogia de Jesus no Evangelho segundo Mateus. Por fim, estudamos mais de perto o discurso de despedida de Josué, nos capítulos 23 e 24, quando as tribos se reúnem e reafirmam a Aliança com Deus.

 

Com tantos detalhes ou passagens, o Livro de Josué – Nós serviremos ao Senhor pode parecer uma leitura difícil. No entanto, o livro é acessível, e os aspectos técnicos, empregados quando necessário, são devidamente explicados nas notas de rodapé. Nosso desejo, conforme afirma a organizadora da obra, é que todos possam estudar esse livro pouco conhecido, mas atual, pois traz questões pertinentes para nossa realidade, como: a problemática da distribuição da terra; a terra como dom, e não como um objeto a ser explorado; a importância de escolher bem nossas liderança e representantes, responsabilidade coletiva; e o perceber a presença amorosa de Deus, que perpassa a história bíblica e também nossa vida, nossa história.

 

 

Ir. Zuleica Silvano, fsp

sábado, 6 de agosto de 2022

“Vocação, é gritar que amor não tem fim”

 

Um dia estava lendo um livro muito famoso, letras pequenas, significados grandiosos, li uma vez e já gostei. Sabe aquele texto que você gosta e ler e reler várias vezes? Assim aconteceu comigo. Em dias de gratidão eu leio para agradecer, em dias de indecisão leio a fim de receber uma luz, há dias que simplesmente leio porque me traz paz interior.


O livro é conhecido por um significativo número de pessoas, mas, aquela passagem da escritura parece que é minha, tomei pra mim, fala comigo. Tenho que dizer que falo de certa carta enviada pelo apóstolo Paulo a comunidade de Corinto e que é está dentro do grande livro, a Bíblia. Mais especificamente me refiro ao capítulo 13 de 1 Coríntios, o sublime “Hino ao Amor”.


Naquele trecho da Sagrada Escritura encontrei um convite para trilhar pelos caminhos do amor, deixar-me envolver por um compromisso que exige renúncias, perdão, mas que no fim de tudo o fruto vale a pena e, é magnífico e pode transformar o mundo num verdadeiro lugar de fraternidade.


Deixei-me encantar por aquele texto, transformei cada palavra em projeto de vida, porque reino que sonho para este mundo precisa antes de tudo, de amor. Essa mensagem admirável “vocação é gritar que o amor não tem fim” (Jonny) entrou em minha vida pelas ondas de um pequeno rádio da minha casa e tornou-se o meu mantra diário, o meu mantra missionário, o meu mantra vocacional.


Hoje, quando olho para o mundo carente de afeto, de gestos capazes de levantar o irmão, o sentimento se aflora dentro de mim. O convite bate na porta da minha vida, que o amor precisa ser proclamado, divulgado, vivido. Todos os dias recordo uma palavra daquela carta para não esquecer, que também sou responsável pelo florescer do amor que tanto quero para o mundo.


Ir. Gizely Pinheiro, fsp