segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Entrevista com Ir. Cipriani

Neste ano de 2013, algumas Irmãs Paulinas celebram 50 anos de consagração na vida Paulina. Nossa equipe do blog está postando as entrevistas que fizemos com elas, onde as mesmas partilham suas experiências de fé vividas ao longo desses anos.
Confira a partilha de Ir. Irma Cipriani:
 
1) Ir. Cipriani, qual o texto bíblico que iluminou sua caminhada ao longo desses 50 anos de vida consagrada?
Entre tantos, escolho o texto que soou aos meus ouvidos, transformado em invocação, desde as primeiras horas da minha entrada na Congregação das Paulinas: “Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida, tende piedade de nós”. É o texto que está na boca do próprio Jesus, quando se autodefine: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”, em João 14, 6. 
Os primeiros comentários sobre esse texto os escutei da boca de Pe. João Roatta, primeiro Superior Provincial da Província Brasileira da Sociedade de São Paulo (Paulinos), quando pregava na capela das Irmãs Paulinas, em Porto Alegre. Enfatizo a palavra “escutei” porque, embora ele falasse com tanto entusiasmo sobre Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida, na minha imaturidade, a compreensão de conteúdos tão profundos permanecia muito aquém daquilo que ele propunha e vivia, certamente em profundidade. Porém, a semente foi plantada juntamente com a minha percepção de que essa expressão bíblica seria forte e importante.
Com o decorrer do tempo fui aprendendo que o fundador de nossa Congregação, o bem-aventurado Tiago Alberione, alicerça toda a vida paulina em Cristo Mestre, Caminho, Verdade e Vida com a radicalidade de São Paulo. No meu processo formativo fui tomando consciência de que nessa espiritualidade se fundamentam artigos essenciais das Constituições das Filhas de São Paulo (Paulinas), passam por ali também as linhas de formação, de espiritualidade e de apostolado. Portanto, como afirma categoricamente Pe. Alberione: “Não é simplesmente uma bela frase, não é um conselho. É a substância da Congregação. Da sua vivência depende o ser ou não ser Paulina”. De fato, a nossa missão é VIVER e COMUNICAR Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida com os meios de comunicação social. Uma missão sem confins.


Pe. Tiago Alberione, conhecendo profundamente a Congregação por ele fundada, justamente com a missão de comunicar a seiva da Vida à sociedade, deu grande importância para a espiritualidade, porque não basta ser uma grande jornalista, uma profissional perita nas artes da comunicação. É preciso VIVER, depois comunicar, insiste Pe. Alberione. Se não existir ele, Jesus Cristo, como causa e como motivo do nosso agir, tudo não passará de representação.
Exatamente porque essa responsabilidade de VIVER Cristo para poder comunicá-lo foi tomando conta de minha consciência, muitas e justas perguntas exigiam respostas. Por exemplo:
- Como transformar esta fórmula evangélica em princípio energético para a vida e a missão?
- Como seria viver a integralidade do Cristo total, sem uma ideia de fundo, que me fizesse colher o valor?
- Como conceber, na prática, esta espiritualidade?
- E essa insistência de Pe. Tiago Alberione sobre a necessidade de cada Paulina “conformar-se” até o “não sou mais eu que vivo, mas o Cristo vive em mim” (cf. Gl 2,20)? Como acontece isso na vida prática?
- É possível “cristificar-se”? Como isso acontece?  Sem muita clareza, achava tudo isso meio complicado. Achava-me insatisfeita.
Conforme diz Pe. Roatta no seu livro Gesù Cristo Via, Verità e Vita (Società San Paolo, 2010, p. 13), “...uma ideia, para invadir a vida e dirigi-la até a projeção apostólica, deve descer com clareza e com graça no íntimo da alma e tornar-se luz e força pessoal”. Sem dúvida, percebi que era preciso estudar, conhecer mais profundamente a proposta de Pe. Alberione.
Nos desígnios amorosos de Deus, a semente da Palavra de João 14,6, que com a graça de Deus permaneceu viva debaixo da terra, encontrou o seu tempo para germinar e me trazer respostas: foi o “Curso de Formação sobre o Carisma da Família Paulina”, a grande oportunidade que me foi dada para estudar, pesquisar e encontrar o caminho claro para a vivência da espiritualidade paulina. Foi a maior alegria e satisfação da minha vida.
O método Caminho, Verdade e Vida se concretiza no trinômio também proposto por Pe. Alberione: conhecer, amar, viver-comunicar. Verdade-conhecer; Vida-amar; Caminho-viver-comunicar. Foi precisamente por conhecer a Verdade é que comecei a me apaixonar por esta maravilhosa espiritualidade. Depois de entrar no caminho do conhecer para amar é que posso comunicá-la mediante uma experiência de vida.
A chave dessa descoberta foi lendo Pe. Alberione e sua explicação sobre no que somos imagem e semelhança de Deus. Segundo ele, somos projeção maravilhosa da Santíssima Trindade, com capacidades semelhantes às de Deus, na mente, na vontade e no coração. Por quê?
Porque ao criar o homem – “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança” (Gn 1,26) –, Deus Pai imprimiu o selo de sua onipotência na vontade do ser humano, que o torna capaz de escolher, decidir, determinar-se nas propostas e resoluções.
Deus Filho imprimiu na mente do ser humano a sua sabedoria, conferindo-lhe a faculdade da inteligência, do pensamento, que o impulsiona a compreender o significado da vida.
Deus Espírito Santo imprimiu no coração do ser humano o selo do seu amor, conferindo-lhe a faculdade de amar, de sentir.  Na redenção, Jesus Cristo Mestre, Caminho, Verdade e Vida, centro unificador, que conhece o homem por dentro, veio restaurá-lo, refazer-lhe a parte sobrenatural das faculdades, comunicar-lhe a vida divina: Cristo Verdade para a nossa inteligência, Cristo Caminho para a nossa vontade, Cristo Vida para o nosso coração e sentimentos. Por isso temos em Cristo “o Caminho, a Verdade e a Vida” (BM II, 49).
Pe. Tiago Alberione
Na sua maravilhosa visão antropológica, Pe. Alberione vê o homem formado de mente, vontade e coração, e Jesus Mestre Caminho, Verdade e Vida corresponde perfeitamente ao ser humano. Fiel ao princípio de integralidade na formação espiritual, o fundador traçou para os membros da Família Paulina as linhas de um caminho de cristificação orientado a:
a) fazer viver o Cristo Verdade em nossa mente, com o frequente pensamento em Deus e com raciocínios sobrenaturais;
b) fazer viver o Cristo Caminho em nossa vontade, com a submissão perfeita à vontade divina;
c) fazer viver o Cristo Vida em nosso coração, subordinando todos os afetos ao amor divino.
Pela ação do Espírito Santo, o Mestre nos configura ao seu mistério de morte e ressurreição, até podermos dizer como São Paulo: “Não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Confesso que ter compreendido a dinâmica da espiritualidade cristocêntrica paulina, seguindo o ensinamento de nosso fundador, é uma das maiores graças para a minha vocação religiosa. Foi também o maior motivo do Magnificat na comemoração do meu Jubileu de Ouro de Vida Consagrada, celebrada solenemente no dia 30 de junho de 2013.
 
2) Como conheceu as Irmãs Paulinas?
Encontrava-me em Caxias do Sul, na casa de minha tia, quando alguém bate na porta da frente. Fui atender. Era uma Irmã Paulina, a Irmã Edwiges, acompanhada por uma jovem aspirante. Até aquele momento eu nem sabia da existência das Paulinas. Estavam passando nas casas oferecendo livros. Minha tia recebeu muito bem as andarilhas de Deus. Depois de ter aliviado bastante a sacola pela boa venda de bons livros, Ir. Edwiges dirigiu-me seu olhar vivaz fazendo-me a pergunta: “Você não gostaria de ser uma Irmã Paulina?”. Pensei um momento e lhe perguntei: “O que vocês fazem?”. Em poucas palavras descreveu-me a vida e a missão das Paulinas.
Naquele momento, não pensei no curso no qual acabara de me matricular, no namorado por quem eu já estava apaixonada, nem na permissão dos meus pais que moravam noutra cidade. Faltando dois dias para completar 15 anos, respondi um “quero” resoluto e comecei a pensar no enxoval. Primos, amigos, conhecidos, além de não acreditarem que minha decisão seria para valer e de terem a certeza de que depois de uma semana eu estaria de volta, inventavam histórias falsas das freiras para me fazer desistir. Deus tem planos para cada um de nós e, para cumpri-los, Ele muda as circunstâncias e cria situações. Para cada chamado Deus usa uma estratégia, pois aos seus olhos somos únicos.
 
3) Recorda um momento (um fato) significativo de sua caminhada em que sentiu a mão de Deus sobre você?
Olhando para o caminho pessoal e espiritual, percorrido nestes 50 anos, vejo que a mão de Deus sempre esteve sobre mim pela maneira sábia como foi conduzindo minha vida, apesar de ter encontrado algumas dificuldades na caminhada. Em alguns períodos mais críticos pelos quais passei, não só senti a mão divina sobre mim, mas como reza aquela oração "Pegadas na areia" e conhecendo as minhas fraquezas, muitas vezes Deus me carregou para que eu não desanimasse. Sou infinitamente agradecida a Ele por essa maneira de me conduzir e seguir o seu chamado. Por isso, repito com São Paulo: “Eu sei em quem depositei a minha fé” (2Tm 1,12). 
4) Em que setores da Missão Paulina já trabalhou? Qual deles considera mais desafiador?
A Missão Paulina é constituída de um grande, exigente e desafiador leque de atividades. Todos os setores requerem de nós muita disponibilidade e preparação, bem como uma convergência de forças que se dá na obediência sapiente e integral. Além do atendimento às livrarias, da gráfica e da missão junto às famílias – atividades que exerci durante o período de formação – por me identificar mais com as ideias visuais, alternei minha missão nos departamentos de comunicação visual: na Editora, na Gravadora e no Marketing, desde a consagração definitiva até hoje. São ótimas áreas de missão, cheias de surpresas e recompensas.  O dia a dia começa com uma página em branco e minha tarefa é preenchê-la. Porém, elas têm um preço: para garantir a originalidade e a criatividade dos projetos é preciso dedicação, gostar de criar, ter bom senso, bom gosto, observar, gostar de desafios, ter a capacidade de trabalhar em equipe, gostar de artes, fotografias e desenho, ter paciência, aceitar críticas e relacionar-se bem com as pessoas. E quando penso que sou chamada a anunciar Jesus Cristo, através da minha própria vida e dos meios de comunicação, brota em mim um profundo agradecimento a Deus por me tornar participante do maravilhoso Carisma Paulino.
 
5) Deixe uma mensagem para as jovens que hoje desejam seguir Jesus mais de perto no Carisma Paulino.
 Se você é cristã, procura a sua vocação e deseja fazer algo de sua vida com e para Jesus, e para o próximo, não tenha medo de responder ao chamado de Deus, porque ser missionária de Jesus Cristo e anunciar a sua Palavra com os meios de comunicação não vale a pena... vale a vida! O seguimento de Cristo implica a renúncia total de si mesma, a renúncia da vida por quem entregou a sua por você. Não é fácil, principalmente quando as asas da dúvida rondam nossas cabeças nos levando a ideias incoerentes com a realidade. 

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