terça-feira, 3 de outubro de 2017

“A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída” - Conversa com Ir. Roseane Barbosa, fsp

Iniciamos o mês Outubro com o pé e o coração na estrada, inspiradas no tema do mês missionário, A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”, nosso site bateu um papo bem legal com nossas irmãs a fim de conhecer as realidades onde estão inseridas desenvolvendo a missão paulina. A entrevistada de hoje é Irmã Roseane Barbosa, fsp, natural de Belém - PA, atualmente realiza a missão em Miami, nos Estados Unidos, junto aos brasileiros que lá residem.

Site das Irmãs Paulinas: Ir. Roseane, o que a motivou para ser uma Irmã Paulina?
Ir. Roseane: Primeiramente o que me motivou a ser irmã foi o amor pela Igreja e o desejo de poder fazer o bem às pessoas. E especificamente para ser Paulina foi a missão com a comunicação. Desde que conheci as irmãs em minha cidade lá pelos anos 90, eu sempre achei muito atraente e ousada a missão de evangelizar através da comunicação. E apesar de não me sentir a “altura” de uma missão tão grande, eu aceitei o desafio que o Senhor me propôs ao me chamar para esta vocação. E assim lá se vão 24 anos desde que entrei aos 17 anos de idade, e destes anos todos são ao todo 14 de consagração. É claro que hoje ainda sinto o mesmo desafio, mas agora posso responder ao meu chamado com muito mais confiança, coragem e capacidade.
Site das Irmãs Paulinas: As Irmãs Paulinas estão presentes em mais de 50 países, o que significa para a senhora ser Missionária da Palavra em outro país?
Ir. Roseane: Uma característica do carisma paulino é a universalidade e eu sempre achei isso muito interessante e bonito, contudo eu não entendia o que de fato o que isso significava até vir para os Estados Unidos onde tive que aprender uma outra língua, acolher uma nova cultura e conviver com um povo diferente, mas com o mesmo desejo de viver a Palavra de Deus. Ser missionária é muito desafiador, pois requer um “morrer” para si mesmo e para a própria cultura. O missionário é alguém que deve dar tudo de si e apesar disso, muitas vezes receberá incompreensões de diversas formas. Entretanto, isso não é motivo para desânimo, e sim de confiar ainda mais em Deus, pois só Ele conhece o nosso coração e o nosso desejo de fazer o bem.

Site das Irmãs paulinas: Como sente e vive o apelo do Papa Francisco de uma Igreja em saída,A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”?
Ir. Roseane: Acima de tudo ser uma “Igreja em saída” é saber sair de si para acolher o próximo com as suas diferenças. Penso que essa foi uma grande inspiração que o Espírito Santo concedeu ao nosso amado Papa Francisco. Eu particularmente acredito que onde quer que estejamos devemos sempre “estar em saída”, e isso para mim significa estar sempre pronto para a missão. É claro que não é tão simples assim, mas Deus nos dá a graça de viver e assumir as causas do Reino. Digo isso a partir da minha própria experiência, pois vir para os EUA não foi tudo lindo e maravilhoso, houve muitas dores que vieram misturadas às alegrias da missão. Antes de vir eu não sabia o que iria encontrar, e mesmo assim eu disse sim e assumi as consequências desse sim, isso para mim é “estar em saída”.
Site das Irmãs paulinas: Qual a sua missão nos Estados Unidos?
Ir. Roseane: Eu realizo a missão em Miami (sul do Estado da Flórida), onde estou há um ano. Acompanho a três comunidades brasileiras que juntas formam a “Missão Nossa Senhora Aparecida”, que é coordenada pelos padres Scalabrinianos. Nessas comunidades eu trabalho com a formação bíblica e catequética. E sempre que tenho uma formação levo junto comigo os livros de Paulinas. Fazer com que as pessoas tenham acesso a Bíblia, livro, CD, DVD em português faz parte dessa missão. Aqui temos uma realidade bem diferente do Brasil, que é um país de matriz católica e é a nossa pátria mãe. Os EUA é um país de origem protestante, e aqui o imigrante é sempre um estrangeiro, por mais que tenha a cidadania ou o status de residente permanente ou temporário. O imigrante, seja ele documentado ou não, trabalha muito e muitas vezes o acesso aos “serviços religiosos” é bem limitado. Alguns não falam bem o inglês e outros acabam por se tornarem evangélicos por causa das muitas comunidades que existem aqui. Frente a essa realidade a nossa missão facilita com que os brasileiros não se sintam tão distantes da própria língua e cultura.
Site das Irmãs Paulinas: Tem alguma história marcante que aconteceu nesse tempo de missão no EUA que a senhora gostaria de compartilhar conosco?
Ir. Roseane: Tenho duas histórias muito significativas em minha vida durante este tempo. Uma vez fui a uma comunidade na cidade de Miami Beach e antes de sair de casa peguei um Terço e o coloquei na minha bolsa. Em geral eu não costumo carregar comigo o Terço, mas nesse dia, algo me impeliu a pegá-lo. Era um Terço que eu havia ganhando nessa mesma comunidade quando estive lá pela primeira vez. Eu o mantive guardado até esse dia por ter outros em uso. Ao chegar na comunidade fui ao encontro dos catequizandos e no momento em que eu entrei no salão da catequese uma catequista perguntou-me: “irmã a senhora sabe ler o Terço? ”. De imediato eu fiquei sem saber o que ela estava me perguntando então perguntei-lhe: “como assim ler o terço?” E ela me respondeu: “a senhora sabe as orações e como se reza o Terço?” Então eu senti um grande arrepio dentro de mim, porque logo me veio à mente o fato de ter pego o Terço antes de sair de casa. Então eu tirei o Terço da bolsa e comecei a explicar para eles o modo como se rezava, os mistérios, a diferença entre Terço e Rosário, etc. O mais interessante é que nenhuma das pessoas que estavam presentes sabiam rezar o Terço e nem mesmo o tinham consigo. Eu era a única que tinha um em minha bolsa graças a providência divina. E eu o tinha pego sem nenhum propósito intencional. Foi muito emocionante perceber os caminhos como Deus nos conduz.
Outra experiência foi muito forte para mim foi a passagem do furacão Irma que atingiu todo o estado da Flórida. Minhas irmãs de comunidade e eu, por segurança, tivemos que sair de Miami, onde o furacão passou com maior intensidade, e fomos mais para o norte do Estado para nos proteger. O furacão passou por nós no domingo (10/09/17) a noite, já com uma intensidade mais branda e mesmo assim os ventos eram muito fortes e não tinha como ficar “tranquila”, pois parecia que a qualquer momento seríamos carregados pela fúria dos ventos. Vivemos dias de grande tensão, expectativa e medo, pois a medida que o furacão ia se aproximando, vários alertas de tornados e enchentes foram emitidos próximos a onde estávamos. Essa experiência me fez perceber que literalmente a nossa vida está nas mãos de Deus. Dizer isso não é novidade, mas sentir isso de perto é bem diferente e muito avassalador. Eu nunca havia sentido tão forte dentro de mim que Deus nos deu a vida, que Ele pode tirá-la a qualquer momento, mas também pode preservá-la de todo mal. E assim o foi.
Mensagem vocacional

Ir. Roseane: Eu nunca gostei de fazer apelo vocacional porque acho que isso exige antes de tudo um coerente testemunho de vida, e sinceramente eu tenho medo que minhas incorrespondências não deem um bom exemplo (risos). Mas, tirando-me de cena e colocando o Senhor no centro, eu só posso dizer que se você sente dentro do seu coração que Deus está chamando você, abra-se e deixe que Ele te conduza. Pois, se esta for a sua vocação, não há nada que impedirá o Senhor de realizá-la em sua vida. Nem mesmo os seus planos e sonhos pessoais, nem os seus pais, nem os seus medos ou noivo ou qualquer outra coisa que seja. Quando Deus nos chama e nos quer para seu o serviço, todos os caminhos se abrem e nos conduzem a Ele. Não adianta fugir como fez o profeta Jonas, ou dizer que ainda é muito jovem como Jeremias, porque para Deus não há desculpas ou pretextos que não sejam superáveis.

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